As autoridades da Venezuela informaram nesta terça-feira (5)
que subiu para pouco mais de 1,7 mil o número de pessoas retiradas por
militares dos arredores da mina ilegal Bulla Loca, no estado de Bolívar (que
fica na fronteira com o Brasil), que desabou em fevereiro.
A ditadura chavista informou que a tragédia deixou 16 mortos
e 36 feridos, mas o prefeito do município de Angostura, Yorgi Arciniega, disse
que na verdade 30 pessoas morreram no desabamento.
O episódio expôs como a mineração ilegal está disseminada na
Venezuela, e a ditadura chavista alega que vem adotando ações para combatê-la.
O Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas
Nacionais Bolivarianas (Ceofanb) afirmou em comunicado que os evacuados na região
de Bulla Loca violaram a “ordem jurídica territorial ao infringir
flagrantemente a Lei Penal Ambiental em uma área de proteção especial de
conservação”.
As Forças Armadas venezuelanas alegaram que as autoridades
ambientais e de direitos humanos estão mobilizadas nos estados de Amazonas e
Bolívar, ambos na fronteira com o Brasil, “combatendo a mineração ilegal e
aumentando a conscientização com o objetivo supremo de salvar o planeta e a
espécie humana”.
O ditador Nicolás Maduro reforçou esse coro, ao denunciar
recentemente que na região de La Paragua – próxima à mina que desmoronou – há
um “conjunto de irregularidades graves, incluindo ações corruptas de alguns
funcionários”, que estão sendo investigadas e das quais ele dará mais detalhes
quando receber um relatório.
A ditadura chavista argumentou ainda que em 2023 implementou
um plano de despejo na Amazônia venezuelana que culminou na expulsão de mais de
10 mil mineradores ilegais, de acordo com relatos oficiais, que não dão
detalhes sobre o destino dessas pessoas ou se elas enfrentaram algum processo
legal após a evacuação.
Organizações da sociedade civil alegam que esse combate à mineração
ilegal é pura fachada e que na verdade o chavismo incentiva a mineração ilegal
em várias regiões da Venezuela.
Na semana passada, o observatório ambiental Proyecto EPA, da
ONG Fundaredes, acusou a ditadura chavista de “complacência” em mensagens postadas
no X.
Segundo a organização, o regime de Maduro permitiu que
“grupos armados irregulares controlassem e explorassem as minas sem qualquer
tipo de restrições, regulamentos ou sanções efetivas” no Arco Mineiro do
Orinoco, local onde ocorreu o desabamento de fevereiro, dentro da Amazônia
venezuelana.
O Proyecto EPA relatou que as atividades mineiras ilegais
“não afetam apenas o meio ambiente, mas também as comunidades locais que
dependem dos recursos naturais para a sua subsistência, (…) além de
submeterem aqueles que trabalham nesses espaços ao trabalho forçado e à escravidão
moderna, violando por omissão o direito à vida, ao trabalho, à saúde e à segurança
pessoal”.
ONG denuncia “show midiático”
Em agosto do ano passado, a ONG SOS Orinoco identificou por meio de georreferenciamento milhares de hectares de minas ilegais dentro do Parque Nacional Yapacana, na região da Amazônia venezuelana, e imagens de satélite confirmaram que ainda existiam grandes áreas onde estas operações seguiam ativas.
“Milhares de mineiros continuam a operar em Yapacana, agora,
como apuramos, sob o controle total das forças armadas venezuelanas, e em
alguns setores as forças armadas permitem que os povos indígenas continuem a
mineração ilegal”, disse a ONG.
A SOS Orinoco informou que “a destruição de alguns poucos
acampamentos e equipamentos levanta suspeitas de um possível pacto entre as
guerrilhas e o exército venezuelano para criar a ilusão de sucesso enquanto a
mineração persiste através de meios alternativos”.
Na segunda-feira (4), a mesma ONG denunciou a existência de
uma estrada ilegal entre uma localidade no norte do Brasil e uma área de
mineração no sul da Venezuela, cuja construção, segundo a organização, foi
permitida pelas forças armadas venezuelanas.
No X, a ONG detalhou que a estrada, construída por um
suposto empresário brasileiro, liga Tepequém, em Roraima, a Icabarú
(Venezuela), uma área no estado de Bolívar “devastada” pela mineração ilegal,
na qual cerca de 4 mil hectares foram destruídos até novembro do ano passado,
de acordo com seus cálculos.
Em vídeo postado na rede social, a organização informou que
a estrada de 63 quilômetros “atravessa o território brasileiro florestado sem
mineração e se conecta com estradas em Icabarú, onde a destruição da mineração
está ocorrendo”, com a participação, segundo a SOS Orinoco, de indígenas,
habitantes locais, guianenses e garimpeiros procedentes do Brasil.
A organização advertiu que essa atividade está levando a um
aumento de acidentes e tragédias, como a que ocorreu em fevereiro em Bulla Loca.
A SOS Orinoco enfatizou que, em dezembro, houve um acidente
semelhante em outra mina, que deixou pelo menos 18 mortos e, apesar disso, ela
continua aberta.
Ou seja, o discurso chavista de combate a esses crimes, como tudo que sai da boca de Maduro, não passa de balela. A SOS Orinoco descreveu nesta segunda-feira as operações das Forças Armadas venezuelanas contra a mineração ilegal como um “show midiático”. (Com Agência EFE)
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