As recentes enchentes no estado do Rio Grande do
Sul já causaram um impacto de 94,3% na atividade econômica do estado de acordo
com um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul
(Fiergs) divulgado na segunda (13). A entidade estima que 91% das fábricas
estão debaixo d’água.
A federação aponta o temor de que haja uma iminente quebradeira no setor produtivo e um possível empobrecimento do estado – o que afeta diretamente a arrecadação de impostos para financiar a reconstrução de tudo o que foi destruído pelas enchentes. A Fiergs aponta que os 447 municípios atingidos são responsáveis por, pelo menos, 83% do recolhimento de ICMS, o principal imposto estadual.
Segundo o presidente em exercício da entidade,
Arildo Bennech Oliveira, a projeção é de esta seja uma década perdida para a
economia do estado.
“Afora todos os problemas imediatos, a gente dificilmente vai ter inovações, muita gente querendo ir embora, os próprios trabalhadores não se sentem mais seguros. O Rio Grande do Sul representa 6% do Produto Interno Bruto brasileiro e 91% do PIB industrial do estado está debaixo d’água”, disse em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta terça (14).
Oliveira explica que os locais mais afetados pelas enchentes incluem os principais polos industriais do estado, como o Vale dos Sinos, a Grande Porto Alegre e a Serra Gaúcha. Estas regiões também lideram a geração de empregos no Rio Grande do Sul.
Na região da Serra, por exemplo, os setores mais impactados são o metalmecânico e de móveis. Já na Grande Porto Alegre, são os segmentos metalmecânico, de derivados de petróleo e alimentos mais atingidos.
No Vale dos Sinos, a produção de calçados é fortemente afetada, enquanto que no Vale do Rio Pardo, os alimentos e tabaco enfrentam grandes desafios. Por fim, o Vale do Taquari destaca-se pelos segmentos de alimentos, calçados e químicos, diz a Fiergs.
“As perdas econômicas são inestimáveis no
momento. Uma infinidade de empresas teve suas dependências completamente
comprometidas. Além dos danos gigantescos de capital, os problemas logísticos
devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do estado”, pontua
a entidade.
Arildo Bennech Oliveira afirma que, neste
momento, “é difícil prever quantos anos o estado levará para se recuperar”,
apontando ainda que muitos funcionários das empresas estão desabrigados ou
abrigados precariamente.
Diante deste cenário desolador, empresas têm
buscado alternativas para tentar mitigar os prejuízos. Uma medida em estudo é a
utilização de uma lei aprovada durante a pandemia da Covid-19, que autoriza uma
série de ações para compensar os dias não trabalhados, como antecipação de
férias e feriados, além da queima de horas extras acumuladas pelos
funcionários.
Oliveira afirmou que planeja uma reunião com o
governo federal, onde apresentará uma série de demandas emergenciais. Entre
elas, a suspensão de impostos para as indústrias por três anos e a concessão de
financiamentos diretos do Banco Nacional de Desenvolvimento e Econômico Social
(BNDES) às empresas, sem intermédio bancário e com um período de carência
significativo.
Na semana passada, o governo anunciou um pacote de R$ 50 bilhões em medidas econômicas voltadas para parte da população e setor produtivo, e prevê mais ações diretamente aos cidadãos ainda nesta terça (14). Também foi anunciada a suspensão temporária do pagamento da dívida do estado com a União por três anos, com a garantia de que o dinheiro – em torno de R$ 11 bilhões – seja utilizado para a reconstrução.
As enchentes que atingem o estado há mais de uma semana já afetaram 447 municípios, com mais de 2 milhões de pessoas. Destas, 615 mil estão desabrigadas ou desalojadas, sendo 77,4 mil em abrigos públicos e 538,2 mil nas casas de parentes e amigos.
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