A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai realizar um novo leilão para adquirir arroz importado nos próximos dias, visando completar as 300 mil toneladas pretendidas pelo governo numa primeira etapa de intervenções estatais nos preços dos alimentos. A justificativa oficial é de forçar a regularização do preço do arroz no mercado doméstico.
Em meio a uma guerra de liminares, o primeiro pregão eletrônico ocorreu nesta quinta-feira (06) e resultou na “encomenda” de 263,37 mil toneladas de arroz de empresas brasileiras, que vão se encarregar de trazer o produto de fora do país. A previsão do governo é de que o produto chegue às prateleiras em até 45 dias. Alguns lotes não atraíram interessados, e as 36,6 mil toneladas que faltaram serão objeto de um novo edital.
O presidente da Conab, Edegar Pretto, disse em entrevista coletiva que espera não ser necessário realizar outros leilões até chegar à cota de 1 milhão de toneladas autorizadas pelo governo. Isso custaria ao país mais de R$ 7 bilhões.
Alarme e, depois, intervenção governista
A ação intervencionista de Brasília tem sido criticada pelo setor produtivo, visto que a safra do Rio Grande do Sul estava quase toda colhida quando ocorreram as enchentes, havendo arroz suficiente para abastecer o país por 10 meses. A maior parte da alta, segundo analistas do mercado ouvidos pela Gazeta do Povo, foi agravada pelo próprio discurso do governo, que alarmou o país falando em escassez de arroz e provocou uma corrida aos supermercados. Teme-se que a intervenção, forçando baixa nas cotações, possa desestimular o cultivo da próxima safra, o que criaria uma situação consolidada de déficit na produção nacional.
Outra crítica tem a ver com o caráter populista da medida, visto que o arroz será vendido a preço subsidiado (R$ 4,00 o quilo) e com logomarca do governo federal, em ano de eleição. “Um TSE sério daria 24h para o governo explicar qual é a razão de se importar”, criticou Antônio Cabrera, ex-ministro da Agricultura.
“Vamos avaliar agora o mercado e se não houver necessidade, não faremos mais compras. Mas enquanto houver a necessidade de baratear o preço para os consumidores, vamos estar realizando os leilões”, avisou Pretto. Após o desastre no Rio Grande do Sul, que abastece 70% do consumo nacional, os preços do arroz no país subiram em média 11% para os consumidores, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), citados pela própria Conab.
Preços internacionais do arroz estão mais altos
O diretor de Política Agrícola da Conab, Silvio Porto, disse que o problema é que esse reajuste se deu em cima de preços historicamente já elevados. Em janeiro, a saca de 50kg chegou a R$ 130,00 em Porto Alegre, lembrou ele, “muito acima inclusive do período da pandemia, quando o limite tinha sido de R$ 105,00”.
Ele não fez menção à valorização da commodity desde julho do ano passado, quando a Índia, principal exportador global, proibiu a maioria dos embarques após uma seca derrubar a produção. “Essas 300 mil toneladas representam um consumo de menos de 15 dias no país. Portanto, vai ser um ingresso muito tranquilo, isso vai ser facilmente absorvido”, afirmou.
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